Este é um sermão que foi pregado na Igreja Batista de Queen Street, que faz parte do CBOQ (Canadian Baptists of Ontario and Quebec). Muitas pessoas pensam que ser Batista se resume a simplesmente usar muita água para os batismos. Mas na verdade é muito mais que isso. Certa vez em uma turma escolar uma professora estava tentando ensinar sobre diversidade. A professora convidou as crianças a trazer algo para mostrar, que representasse sua religião. Uma garota Judia trouxe uma Menorá. Um garoto Católico Romano trouxe alguns rosários. A professora perguntou à criança Batista o que ela havia trazido. Ela disse que trouxe uma travessa para o “junta-panelas”¹. Eu direi como alguém que esteve em muitas igrejas que os Batistas têm as melhores reuniões junta-panelas¹.
Não fui criado como Batista. Na verdade, fui batizado quando bebê em uma igreja Anglicana e fui batizado como crente em uma igreja Pentecostal. Mas eu escolhi ser batista em uma época em que estava lutando contra como minhas próprias crenças se encaixariam nas tradições em que participava. Acho que há algo ótimo nos distintivos batistas. Dito isto, esta mensagem não é sobre porque os batistas são os melhores ou porque você deve ser batista, caso você ainda não se identifique como tal. Se você se identifica com outra Tradição Cristã, este é um momento para todos aprendermos juntos. Há algumas coisas aqui em que todos podemos concordar. Antes de entrar nos sete distintivos batistas, preciso lhe dar uma breve lição de história, pois isso afetará o pensamento e prática Batista. A primeira congregação Batista de todos os tempos apareceu na Holanda em 1609. Era formada por pessoas que haviam fugido da Inglaterra. John Smyth foi o primeiro pastor. Foi um período de grande revolta religiosa na Inglaterra. A igreja estatal na Inglaterra mudou-se de Anglicana para Católica e depois mudou outra vez. Quem estava no poder perseguia vigorosamente os cristãos da tradição "errada". Muitas crenças Batistas são uma reação a essa situação. Então, no que os batistas acreditam? [1. Jesus é o Senhor.] Qual é o cerne da fé cristã? O que é que nos une? Desde o início, os cristãos criaram Credos e Confissões de Fé que nos dizem o que é a fé ortodoxa. Alguns desses Credos são melhores que outros. Mas quando novos grupos e tradições apareceram, os credos se tornaram mais detalhados e precisos. Novamente, isso não é necessariamente ruim. Mas os primeiros batistas procuravam ser a igreja do Novo Testamento. Isso os levou a ver qual era o primeiro Credo Cristão no Novo Testamento. Foi bem simples. Jesus é senhor. “Portanto, vos declaro que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, pode dizer: Maldito seja Jesus! E ninguém pode dizer: Jesus é Senhor! a não ser pelo Espírito Santo.” (1Cor 12.3) "Porque, se com a tua boca confessares Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo." (Rm 10.9) Isso não significa que não acreditamos em mais nada. Mas este é o fundamento de nossa fé. Eu disse que era simples, mas não é fácil. Este é o credo que colocou a Igreja Primitiva em problemas com os romanos. Os romanos proclamaram que César é o senhor, que foi o fundamento do Império Romano. Quando os Cristãos disseram que Jesus é o Senhor, eles também estavam dizendo que César não é o Senhor. Quais são as implicações quando dizemos que Jesus é o Senhor? De quem o senhorio estamos negando? Não podemos ter dois senhores. Se fizermos de Jesus nosso Senhor, algo terá que acontecer. Não podemos simplesmente colocar as crenças de Jesus em nossa vida sem que nenhuma mudança decorra. [2. A Palavra de Deus é a Regra Reguladora de Fé] Outro aspecto do pensamento Batista é o nosso foco na Bíblia como autoridade final. Os Batistas tradicionalmente têm uma visão elevada das Escrituras. Embora eu tenha respeito pelas tradições e pela experiência, em última análise, a Palavra de Deus é o único guia seguro. Aprecio as palavras do Apóstolo Paulo: “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra.” (2 Tm 3.16-17) Não acreditamos que a Bíblia seja apenas uma coleção de contos e reflexões antigas de alguns líderes religiosos. Acreditamos que a Bíblia é inspirada ou “soprada” por Deus. Isso não significa que Deus ditou a Bíblia. Significa que Deus usou esses escritores em suas experiências com suas personalidades para nos dar exatamente o que precisamos para saber quem é Deus e como estar em um relacionamento correto com Ele. Tudo o que fazemos e acreditamos deve ser constantemente comparado e corrigido pelas Escrituras. [3. Sacerdócio de Todos os Crentes] O que são sacerdotes? No Antigo Testamento, os sacerdotes eram homens de uma certa tribo, a de Levi, e de uma certa família, os descendentes de Arão. Eram os sacerdotes que ofereciam sacrifícios em nome do povo e fariam o que fosse necessário para providenciar sacrifícios. O papel do sacerdote era essencial. Existem algumas tradições dentro do Cristianismo que adotaram um modelo semelhante para o clero. Não apenas chamam seus pastores de sacerdotes, mas também o veem desempenhando um papel de intermediação. Uma de nossas crenças batistas está no sacerdócio de todos os crentes. “E da parte de Jesus Cristo, o primogênito dos mortos e o Príncipe dos reis da terra, que é a fiel testemunha. Àquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados pelo seu sangue, e nos constituiu reino e sacerdotes para Deus, seu Pai; a ele sejam glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém." (Ap 1.5-6) Às vezes, os Batistas se enquadram no modelo antigo de sacerdócio, pensando que o pastor deve fazer a oração ou o pastor deve liderar a adoração. Fico feliz em fazer essas coisas, mas faço-as no sacerdócio como crente e não porque recebi uma conexão especial com Deus quando fui ordenado. Todos os crentes em Jesus Cristo são sacerdotes e têm conexão direta com Deus. O trabalho do pastor é ensinar e incentivar. Você nunca precisa esperar o pastor se conectar com Deus. [4. Uma Igreja de Crentes] O que é a igreja? Existe igreja e existe a Igreja. Qualquer um pode reunir um grupo de pessoas, formar uma organização, montar uma constituição e chamá-la de igreja. Mas isso não faz dela uma Igreja. A Igreja é algo muito específico e não é criação humana. A Igreja, e com isso não quero dizer a Igreja Batista, quero dizer a Igreja Cristã, é o Corpo de Cristo, a união de todos os nascidos de novo, seguidores de Jesus. Uma pessoa não pode comprar sua entrada na Igreja. Uma vez que uma pessoa chama Jesus como seu Senhor, ela faz parte da Igreja. Aqueles que ainda não acreditam são bem-vindos e convidados a participar de nossos cultos. Mas é preciso ser crente para fazer parte da Igreja. [5. O Batismo do Crente por Imersão] O batismo é o que faz muitas pessoas identificarem com os batistas. Preciso dizer que conheço pessoas que acham que o batismo infantil é o caminho certo ou que acreditam que a aspersão é maneira correta. Eu respeito essas posições, todavia, estou aqui para compartilhar a visão batista. A parte mais importante disso é o aspecto do batismo do crente. O que vemos no Novo Testamento são pessoas chegando à fé e sendo batizadas. Esse parece ser o modelo. Parece que o batismo é uma resposta à fé, não um precursor. Realizamos o batismo por imersão. Esse parece ser o significado básico da palavra batizar, que significa algo como “imersão”. É também uma imagem poderosa da morte e ressurreição de Jesus. Uma coisa que eu preciso enfatizar. O batismo não é necessário para a salvação. Se você tivesse um ataque cardíaco a caminho do seu culto de batismo na igreja, não iria para o inferno. O batismo não é a lavagem do pecado, é o sinal externo do que Jesus já fez. Fui batizado quando bebê e, como muitos cristãos, achei que estava tudo bem. Mas quando participei de alguns cultos de batismo e vi pessoas experimentando o batismo de crentes por imersão, eu sabia que era disso que eu precisava. Isso não quer dizer que os batismos de bebês não tenham sentido. Eu valorizo que meus pais estavam na igreja e expressaram sua intenção de me criar como cristão. Mas, para mim, o batismo de crente expressou minha fé pessoal. [6. Governo Congregacional] Os Batistas sempre se concentraram no governo congregacional. Eu sei que o governo da igreja parece chato, mas deixe-me continuar. Existem igrejas que possuem uma forte estrutura denominacional hierárquica. Pode haver uma pessoa ou um grupo de pessoas que tomam decisões e que filtra o que é adotado pelas congregações locais. Não é assim que funciona na igreja Batista. É tudo sobre a igreja local. Optamos por nos associar a outras Igrejas Batistas, mas não há autoridade central que possa nos dizer o que fazer ou em que acreditar. Embora isso possa resultar em alguns problemas, estamos assumindo os pontos anteriores do senhorio de Jesus e a autoridade das Escrituras. Se nos submetermos a Cristo e estudarmos as Escrituras, devemos permanecer no caminho certo sem sermos orientados pela denominação ou outra autoridade humana. [7. Separação entre Igreja e Estado] Ouvimos muito sobre a separação entre Igreja e Estado. Do modo como é descrito hoje, parece que é uma limitação da religião para mantê-la fora da esfera pública. Dez mandamentos e presépios devem ser escondidos e ninguém deve mencionar Deus na escola. A separação entre igreja e estado existe para proteger o estado da igreja. Mas não é isso que é a separação entre Igreja e Estado. De fato, foi a igreja que insistiu nessa separação e não o governo. A separação entre Igreja e Estado visa proteger a Igreja do Estado. Os primeiros Batistas saíram da Inglaterra que, como vários outros países da Europa, tinham uma Igreja Oficial do Estado. A tradição particular adotada como igreja do estado recebeu benefícios ricos e os de outras tradições receberam boas limitações e, em pior cenário, a perseguição. Os Batistas viram a pior face da igreja do Estado e decidiram que isso era suficiente. O problema não era que os Batistas não eram a Igreja Oficial do Estado, era a existência de uma igreja estadual - para começar. Essa separação não significa que os batistas ou outros cristãos não possam concorrer a cargos, se manifestar sobre questões políticas ou se envolver com interesses nacionais. Significa simplesmente que o Estado não deve escolher uma tradição e dar-lhe um status especial. Uma igreja estatal é como o anel de poder do Senhor dos Anéis. Gandalf recusou o anel, embora o tornasse poderoso o suficiente para destruir Sauron, porque ele sabia que o Anel o corromperia e ele se tornaria maligno. Gandalf seria um bom Batista. Como Batistas, queremos ser livres para expressar nossa fé conforme a entendemos nas Escrituras, sem interferência do governo. [Conclusão] Não estou aqui para dizer que a Igreja Batista é a única Igreja verdadeira. Mas quero dizer que acho que os Batistas têm coisas boas a dizer. Enquanto me identifico primeiramente como Cristão, me sinto à vontade com os distintivos Batistas. Não somos os únicos Cristãos a acreditar em pelo menos algumas dessas declarações. Eu espero que todos os cristãos afirmem Jesus como Senhor e a autoridade das Escrituras. As outras crenças também são importantes, mas há espaço para conversarmos com outras Tradições. Sou solidário com irmãos e irmãs que têm outras formas de batismo ou se apegam a formas Episcopais ou Presbiterianas de governo da igreja. Todos os cristãos de todas as tradições são bem-vindos a adorar aqui. Ao mesmo tempo, há um lugar para celebrarmos nossa Tradição Batista. *** Autor: Stephen Bedard – Pastor na igreja Queen Street Baptist Church, Capelão Militar do Lincoln e do Regimento de Welland, professor, blogueiro, autor, defensor dos direitos de pessoas com deficiência e discipulador. Stephen é casado com Amanda, e juntos eles têm cinco filhos. Dois de seus filhos têm Autismo, e como ele mesmo diz – “isso molda muito tudo o que faço”. Nota do Tradutor: [1] Junta-Panelas – o autor cita neste trecho um termo em inglês: potluck. Potluck seria o que conhecemos aqui no Brasil como “junta-panelas”. Mesmo que você não conheça este termo, garanto que você sabe do que se trata. Certamente você já foi a alguma festa ou reunião em que cada pessoa é responsável por levar um prato de comida e uma bebida, certo? É disso que se trata. Potluck é uma “festa americana” onde cada pessoa leva um prato de comida para servir a todos, e assim, todos têm um grande banquete de celebração e comunhão. O autor frisa neste contexto o fato de a criança levar sua travessa para o “potluck” pois é muito comum nas Igrejas Batistas americanas esse tipo de confraternização. Para aquela criança Batista, o que representava sua religião era este fato, que devia ser marcante e recorrente em sua comunidade local. Certamente usa tal contexto para dizer como talvez os Batistas, muitas vezes, não conheçam seus próprios distintivos, e assim, dar introdução ao texto. Fonte: http://bit.ly/OQueÉUmBatista Tradução: Henrique Botini do projeto Baptisma |
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Fevereiro 2025
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