No Brasil há maior número de batistas letos do que em qualquer outro país, excetuando-se a Letônia. Há atualmente uns 2.200 membros, pertencentes às 11 igrejas, situadas nos 3 grandes estados do Sul do país: Rio Grande do Sul, Sta. Catarina e São Paulo. O número total dos batistas letos no mundo inteiro sobe a 15.000, dos quais uns 12.000 estão na Letônia. Os primeiros imigrantes letos, quer crentes batistas quer de outras denominações evangélicas, vindos de Riga (Letônia), chegaram ao Brasil em 1890 e fundaram a sua primeira colônia numa região denominada Rio Nôvo, perto da pequena cidade de Orleans do Sul, no Estado de Sta. Catarina, sendo a maior parte dos colonos crentes batistas. No mesmo ano foi organizada também a Primeira Igreja Batista Leta no Brasil. Lutando contra inúmeras dificuldades na nova vida e num país estranho, cercados de altas montanhas e densas matas virginais, os crentes não se esqueceram do seu Criador. Logo construíram uma casa tôsca para oração, cujas paredes e teto eram cobertos de fôlhas de palmeira, aí realizando os seus cultos com a máxima regularidade. Dois coros, bem ensaiados, entoavam os seus belos hinos alternadamente, todos os domingos. A maior falta que sentiam era a de um pastor idôneo para dirigir os destinos da novel igreja. Para realizar os batismos, escolheram um irmão que tinha sido diácono na velha pátria. Durante uns 10 anos, mais ou menos, a igreja trabalhou sem auxílio de pastor. Apesar desta falta, conseguiu construir um novo edifício, com amplo salão para cultos, outro para escola diária e também diversos recintos para a residência do pastor, tudo debaixo do mesmo teto. A escola diária, anexa à igreja, ministrava instrução em língua leta e portuguêsa, de sorte que a mocidade leta do Rio Novo sabia o português perfeitamente. Essa igreja ainda existia e trabalhava com vigor pela extensão do Reino de Deus naquela zona em 1937. O número de membros era então muito reduzido; isto por motivo da mudança de muitas famílias daquele lugar montanhoso e isolado, para o próspero Estado de S. Paulo. Os pastores e obreiros que serviram a essa igreja durante períodos mais longos foram: o Prof. Guilherme Butler, Alexandre Klavin e Carlos Anderman. A Segunda Igreja Batista Leta foi organizada em 1892 na próspera Colônia de Ijuí (Rio Grande do Sul), com imigrantes batistas, vindos de Riga (Letônia) e de outras partes como da antiga Rússia. Essa igreja seguiu os passos de sua irmã mais velha, do Rio Nôvo. Em pouco tempo construiu a casa de oração que lhes servia de templo e de edifício para escola diária, anexa à igreja, onde as crianças recebiam instrução em língua leta e portuguesa. Mais tarde a igreja adquiriu um terreno, onde foi construída a residência do pastor e um belo templo para os trabalhos religiosos. Entre os pastores que a serviram, podemos mencionar os seguintes: Alexandre Klavin, e os dois irmãos Leiman: Frederico e Guilherme. Na Colônia Mãe Luzia (Sta. Catarina), foi organizada uma pequena igreja leta, em 1896, aproximadamente. O veterano Pastor Hans Araium, que ainda vivia em 1936 os seus últimos dias em Nova Odessa, serviu à Igreja de Mãe Luzia por alguns anos, até à sua mudança para a nova colônia leta em Jacuassú, no Município de Blumenau. Aquela igrejinha ainda existe, porém com um número de membros muito reduzido, por motivo da transladação de muitas famílias para o Estado de S. Paulo. Em 1898 organizou-se uma florescente igreja leta nova e próspera na Colônia de Jacuassú, em Blumenau, sob a direção do jovem Pastor Pedro Graudin, e com o auxílio dos dois pastores veteranos: Jacob Inke e Hans Araium. A igreja foi organizada em tôdas as fases dos seus trabalhos, segundo os moldes e a orientação das igrejas batistas européias. A igreja estabeleceu diversas congregações e pontos de pregação, tais como: Guaraní, Ponto Comprido (mais tarde Rio Branco), Linha Telegráfica e Schroederstrasse. Começou em 1906 e continuou durante anos o êxodo de muitas famílias batistas para o Estado de São Paulo, ficando o número de membros daquela igreja grandemente reduzido, sendo a sede transferida para Rio Branco, onde ainda existia e trabalhava, em 1937, pela glória de Deus e para a extensão do seu reino naquela zona. Um acontecimento auspicioso para as igrejas batistas letas no Brasil foi a visita do Pastor João Inke (o irmão mais velho do Prof. Ricardo J. Inke). Em 1897, esse irmão foi enviado pelas igrejas batistas da velha pátria, Letônia, aos batistas letos no Brasil como mensageiro especial. A Igreja do Rio Novo (Sta. Catarina), serviu ao Pastor Inke como centro das suas operações, onde trabalhou quase um ano e donde visitou todas as outras igrejas no Sul do país. Trabalhou também entre os alemães com grande dedicação, batizando diversos novos convertidos. A Igreja do Rio Novo foi grandemente beneficiada com essa visita. O Pastor Inke serviu àquele povo como pastor, evangelista, professor, advogado, médico e juiz, pois naquela época havia completa falta de todos esses elementos na nova colônia. Antes da sua volta para a velha pátria, o Pastor Inke aguardou a chegada dum numeroso contingente de imigrandes letos da Rússia entre os quais se achavam também os pais e irmão dêle. Com esses imigrantes ele fundou a nova Colônia de Ponto Comprido, que mais tarde recebeu o nome de Rio Branco. Aí foi organizada uma congregação batista e, mais tarde, uma igreja. Em 1899, chega ao Brasil o Prof. Guilherme Butler, e torna-se o diretor de instrução pública da colônia e da Igreja do Rio Novo (Sta. Catarina). Trabalha com grande dedicação no colégio e também na igreja, até à chegada do seu cunhado, Pastor Alexandre Klavin. Sentindo necessidade de preparar-se melhor ainda, o Prof. Butler vai aos Estados Unidos estudar. De volta, trabalha durante um breve período no Colégio e Seminário Batista do Rio e, em 1915 mais ou menos, vai para Curitiba, onde se estabelece como obreiro cristão e lente catedrático do ginásio do Estado. Neste interim vem ao Brasil um missionário alemão, Carlos Roth, enviado pela Convenção Alemã dos Estados Unidos. Além dos seus trabalhos de pastor da igreja alemã em Pôrto Alegre, (Rio Grande do Sul), e das muitas e freqüentes viagens evangelísticas pelo Sul do país, esse ativo servo de Deus abre uma escola bíblica ou missionária em Pôrto Alegre, servindo a sua própria residência de internato para os quatro primeiros estudantes, todos de nacionalidade leta. Após um curso de três anos, três dêles ocuparam importantes campos de trabalho na seara do Senhor. Alexandre Klavin, que também era um dos estudantes, assumiu o pastorado da igreja leta em Ijuí (Rio Grande do Sul); Frederico Leiman, o da igreja alemã na Linha Formosa, no mesmo Estado; e Ricardo J. Inke foi enviado à República Argentina, (província de Entre Rios), como missionário entre os alemães, onde trabalhou sob visível bênção de Deus durante 5 anos. Da Argentina, o Pastor Ricardo J. Inke foi aos Estados Unidos, em 1910, onde estudou até 1915, encontrando a sua futura esposa. Aceitando o urgente convite da Igreja de Nova Odessa, voltou para o Brasil, em 1915. Assumiu também o pastorado da igreja brasileira em Campinas, S. Paulo, e pastoreou as duas igrejas apenas um ano. Em 1917 o diretor do Colégio e Seminário Batista do Rio, Dr. J. W. Shepard, o convidou para assumir o professorado naquela instituição, onde ainda trabalhou até 1936. (Faleceu, no Rio de Janeiro, 20 de novembro de 1936.) A grande e próspera Igreja Leta de Nova Odessa foi organizada em 1906, no dia de Natal, com a presença do nosso veterano missionário Dr. W.B. Bagby, e o Pastor H. Gartner. O fundador da Colônia de Nova Odessa é o irmão Júlio Malves, atual diretor da Colônia Leta, no Estado de São Paulo. Sob os cuidados dêsse irmão e com o valioso auxílio do Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Dr. Carlos Botelho, os letos afluíam constantemente para a nova colônia e a igreja crescia em número e em atividade. A congregação desta igreja em Areias já se organizou em igreja independente, contando com mais de cem membros em 1937. A Igreja de Nova Odessa atualmente conta com mais de 450 membros; possui dois belos templos próprios; um na Fazenda Velha e outro na estação de Nova Odessa. O trabalho está bem organizado em todas as suas fases, distinguindo-se numerosa e bem organizada União da Mocidade e a música sacra, cantada por dois grandes coros e tocada por uma orquestra bem ensaiada. No começo da sua existência, esta igreja lutou muito por falta de pastôres. Durante a sua existência, de quase trinta anos, os seguintes irmãos pastorearam esta igreja: Hans Araium, Ricardo J. Inke, André Leekning, João Inke, Carlos Kraul e ultimamente, A. Pintcher. Entre os destemidos e sábios guias desta igreja distinguiu-se o falecido e muito pranteado diácono Ernesto Araium, que durante a maior parte da sua vida foi o esteio forte da igreja, servindo-lhe durante muitos anos, quer na capacidade de diretor do côro, quer na de fiel tesoureiro, secretário, quer na de sábio conselheiro a todos os pastores nas questões espirituais ou econômicas. Entre 1921 e 1923 grandes contingentes de imigrantes batistas letos vieram para o Estado de São Paulo. Este notável êxodo da velha pátria Letônia foi um resultado direto e natural da Grande Guerra e dum reavivamento espiritual. Uma florescente colônia leta, denominada Varpa, foi fundada nas margens do Rio do Peixe, no longinquo interior da zona Sorocabana. Como a maior parte dos imigrantes era batista, uma grande igreja foi organizada, com uns 800 membros; era, portanto, a maior igreja batista da América do Sul. O Pastor A. Pintcher, formado pelo seminário batista de Hamburgo, Alemanha, foi eleito pastor efetivo, auxiliado por três co-pastores: João Inke, Arvido e Alberto Eichman, e por muitos outros obreiros e evangelistas idôneos, que vieram da velha pátria. Esta numerosa e muito ativa igreja começou um extenso e abençoado trabalho missionário entre diversos povos naquela vasta zona do longinquo interior. Além de inúmeros pontos de pregação e diversas congregações desta igreja, foram organizadas mais duas: uma russa e outra brasileira. Por motivo da grande distância, que torna difícil a reunião de todos os membros num só centro, foram organizadas, há bem pouco, mais duas igrejas letas na mesma Colônia Varpa, uma em Picadona, outra em Pitangueira. Todas as três possuem belos e espaçosos templos próprios, dos quais o maior é o da igreja-mãe, no centro da colônia, com capacidade para mais de mil pessoas. Três coros, bem treinados, entoam os seus belos hinos todos os domingos, e uma grande orquestra beneficia todas as ocasiões festivas da igreja. Os pastores, que em 1937 serviam àquelas igrejas, são os seguintes: Carlos Kraul, no centro, Alberto Eichman, da Igreja de Pitangueira e Arvido Eichman, João Inke e Carlos Grigorowitch, da Igreja em Picadona. Em 1935 foi fundada uma escola missionária em Varpa, a fim de preparar novos obreiros para o vasto campo missionário, que se acha sob os cuidados da colônia. Além da escola, há no mesmo centro uma pequena casa publicadora, que consegue publicar dois jornais ou mensários, um em língua leta, outro em russo. Muitos folhetos e até livros já foram publicados por esta casa. Há também uma pequena igreja leta na Colônia Urubicí (Sta. Catarina), com uns trinta ou quarenta membros, que atualmente não tem pastor. Na capital de São Paulo também há uma produtiva e numerosa igreja leta, cujo pastor, (em 1936) Rodolfo Anderman, é homem de inesgotável bondade e paciência e de grande capacidade administrativa. Em 1937 a igreja contava com uns 200 membros e realizava os seus cultos no templo duma igreja presbiteriana. Esta igreja foi organizada em conexão com a de Varpa, pois que daquela colônia muitos vieram para a cidade de São Paulo em busca de trabalho, ficando ai domiciliados. Dois característicos, que sempre acompanham os irmãos letos e suas igrejas, são: o fino gosto e notável capacidade pela música sacra, e o interesse vivo que manifestam pela educação, e especialmente pelo preparo da sua mocidade para o magistério e ministério. O nosso Colégio e Seminário do Rio tem tido sempre um bom número de estudantes letos; às vezes a quarta parte de todos os seminaristas tem sido composta de letos. Quanto à música, nota-se que, onde há uma igreja leta, aí há também um côro bem ensaiado. Muitos coros têm sido ensaiados e dirigidos, tanto em São Paulo, como no Rio, pelos irmãos letos. Como todas as outras igrejas batistas no Brasil, as igrejas letas têm sofrido bastante pelas invasões de doutrinas falsas, tais como o pentecostismo e o adventismo ou sabatismo; a verdade, porém, tem sempre triunfado e prevalecido contra os erros de todas elas. A constituição ou organização das igrejas batistas letas no Brasil tem seguido a orientação européia e não a norte-americana, como acontece com as igrejas brasileiras; no entanto, as diferenças são tão insignificantes que é de fato difícil percebê-las. Fonte: Relato do Pastor Ricardo J. Inke para o livro "História dos Batistas do Brasil até o Ano de 1906", 2ª Edição, páginas 305 - 309. Foto: Segundo Templo da Igreja Batista de Rio Novo - SC, inaugurado em agosto de 1894. (Resumo do Pastor A. R. Grebtree, de 1937) |
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Outubro 2024
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