A 15 de outubro de 1881, chegou às plagas do Rio Grande do Sul um casal de batistas, destinado a fundar entre os seus patrícios um trabalho espiritual de grande alcance. O irmão Carlos Feuerharmel e a esposa D. Frederica, com 9 filhos, vieram de Pomerania, Alemanha, onde o casal tinha feito parte da Igreja Batista de Retz. A filha mais velha deste casal, que foi a progenitora do Pastor R. Pitrowsky, tinha apenas 17 anos quando vieram para o Brasil. A 17 de março de 1882, mudaram-se para o vale denominado Linha Formosa, onde esta e mais algumas famílias estabeleceram uma colônia que crescia e prosperava rapidamente. Mas estes colonizadores não se esqueceram da sua missão espiritual de anunciar as Boas Novas de Cristo aos seus patricios. Salientou-se especialmente, nesta obra de evangelizar, a espôsa do irmão Carlos, D. Frederica, devido às oportunidades que se lhe deparavam no exercício de sua profissão de parteira.
Deus abençoou os esforços dos seus servos na conversão de D. Guilhermina Neitzke, em 3 de setembro de 1884, e no mesmo dia também a do seu marido Germano Neitzke. No dia 29 de setembro converteram-se os quatro filhos: Emma, Alberto, Emilia e Ida, da família Feuerharmel. Pouco mais tarde achavam-se entre os convertidos as famílias Boetcher e Waldow, Ricardo Reinke e Elisa e Gustavo Pitrowsky, pais do Pastor Ricardo. Não sabendo de nenhum pastor batista no Brasil, o irmão Carlos Feuerharmel se dirigiu ao seu Pastor. J. Wienler, na Alemanha, pedindo-lhe que providenciasse a fim de que alguém viesse realizar os batismos. O Pastor Wienler deu-lhe o endereço de Paulo Besson, em Buenos Aires. Este também respondeu que não podia vir e que em tais circunstâncias qualquer crente batizado e membro de uma igreja batista poderia administrar a ordenança. Enquanto se passava o tempo, as constantes reuniões dos novos crentes fervorosos e as suas atividades evangelísticas despertaram contra eles uma severa perseguição dirigida pelo Pastor Falk da Igreja Luterana, na Linha Ferraz. Além de incitar os membros da sua igreja a perseguirem e maltratarem os crentes, fez queixa deles perante as autoridades civis da cidade de Santa Cruz, dizendo que este movimento dos crentes era um levante político-religioso, semelhante ao de Canudos. Afirmava que os crentes estavam entrincheirados com armas e munições bélicas; que não trabalhavam, mas viviam de roubos e saques e praticavam as maiores imoralidades. Sem saber coisa alguma a respeito do que se tramava contra êles, os irmãos Augusto Strei, Guilherme Waldow, Carlos Waldow e Frederico Mueller, se achavam em Santa Cruz para tratar de seus negócios, quando foram presos e conduzidos à cadeia pelas autoridades, que ficaram apreensivas diante de tantas acusações. Argüidos no dia seguinte pelo Delegado Pedro José Coelzer, este mandou chamar os irmãos Calos Feuerharmel e Germano Neitzke, dirigentes do trabalho. Estes dois foram levados também à prisão, sem direito a qualquer palavra de defesa. Correndo a notícia, pela cidade, do encarceramento destes, levantou-se uma grande massa popular, protestando contra a injustiça da prisão de homens tão conhecidos e respeitados. Devido a indignação popular os cinco presos foram libertos, mas os "cabeças" foram despachados como "presos perigosos" para a capital do Estado, Pôrto Alegre, e foram maltratados na viagem de 6 léguas a cavalo e 7 horas de trem. Depois de 5 dias de prisão foram chamados a prestar contas perante o júri sendo então defendidos por um advogado voluntário, von Koseritz, redator de um jornal na cidade. Depois de seis semanas de incertezas e diversos incômodos foram postos em liberdade. Apesar de todo o sofrimento acarretado pelas calúnias e perseguições, alcançou o irmão Carlos uma vitória não insignificante: a firmeza de sua fé foi abençoada com a conversão de todos os seus filhos ainda não crentes. Com o número crescente de conversões, surgiu de novo, o problema de batismo. Os únicos batizados entre os crentes eram Carlos Feuerharmel e Frederico Mueller. O irmão Carlos recusou-se a batizar porque tinha dito impensadamente diante do juiz, em Pôrto Alegre, que não o faria, e não quis violar sua palavra. O encargo caiu sobre o irmão Frederico Mueller que, sendo de pequena estatura e fraco, batizou o primeiro convertido, irmão Germano Neitzke, e este então lhe ajudou no batismo de outros. Resolvido o problema do batismo, surgiu logo a questão da organização da igreja. Não havendo nenhum pregador na colônia, os batizados continuaram por algum tempo como uma congregação. Nesse interim vieram outros crentes da Europa, os quais recomendaram o seu irmão na Alemanha, Augusto Matschulat, jovem pregador, para dirigir o rebanho. Este aceitou o convite da congregação e chegou com a sua numerosa família à Linha Formosa, em setembro de 1893. Foi eleito pastor da congregação em 28 de setembro e organizou a igreja a 5 de novembro de 1893, com 45 membros. Logo em seguida a igreja consagrou o irmão Matschulat ao pastorado e os irmãos Carlos Feuerharmel e Germano Neitzke ao diaconato. Passou a nova igreja por muitas lutas e dificuldades, em grande parte por causa da inexperiência do pastor e da igreja. Venceram fàcilmente a perseguição de fora, mas as rivalidades, os ciúmes, os mal-entendidos e o amor próprio constituíram um poderoso inimigo interno. Depois de alguns anos de lutas durante a direção da igreja, o Rev. Augusto Matschulat deixou o pastorado e dedicou-se à lavoura, ficando a igreja sem pastor até março de 1906. Mas havia pregado e evangelizado em Porto Alegre e outros lugares e batizado diversos irmãos. Não obstante as lutas que prejudicaram o desenvolvimento espiritual da igreja, esta não deixou de dar fruto. Em março de 1903 converteu-se o jovem Ricardo Pitrowsky, destinado a consagrar a vida ao ministério entre os brasileiros. Foi batizado pelo Pastor Carlos Roth. Em maio de 1894 batizou-se o primogênito do Pastor Frederico Matschulat. Ele estudou nos Estados Unidos e foi, em 1936, um dos obreiros mais consagrados e mais eficientes na direção daquele campo. Em 1902 foi construída a casa de oração num grande terreno oferecido à igreja pelo irmão Carlos Feuerharmel. Em março de 1895 organizou-se na Linha 10, em Ijuí, uma igreja batista composta de 30 crentes de nacionalidade leta, vindos do Estado de Sta. Catarina, por onde haviam chegado da Rússia. O Sr. Makewitz foi o seu primeiro pastor e a igreja cooperou por muitos anos com as igrejas alemãs e assim contribuiu para o estabelecimento de outras igrejas da mesma nacionalidade. Em 1899 a igreja foi visitada e orientada no serviço pelo Pastor João Inke, representante da Junta de Missões dos letos na Báltia. Recebeu visitas pastorais também da Missão Alemã e teve alguns pastores da sua nacionalidade, entre os quais se distinguem o Rev. Alexandre Klawin. Durante o pastorado de Guilherme Leimann a igreja começou a evangelizar os brasileiros natos. Resultou destas atividades a organização de várias igrejas brasileiras, entre as quais se contam a das Invernadas e a do Alto Uruguai. A Igreja Batista de Pôrto Alegre era a segunda igreja batista alemã e a terceira organizada no Estado. Crescia gradualmente o número dos imigrantes na cidade. Recebeu algumas visitas do pastor da Igreja de Linha Formosa e, em 1899, foi organizada com 8 membros. Lutou ela heroicamente, e no período de 10 anos adquiriu um terreno, construiu sua casa de culto, organizou uma escola, adquiriu uma casa pastoral e um cemitério. Tornou-se o centro de operações do trabalho do campo por alguns anos. Rio Grande do Sul como Campo Missionário Sentindo-se fraco e isolado, o Pastor Augusto Matschulat, de Linha Formosa e da Igreja de Porto Alegre, apelaram as igrejas aos irmãos em várias partes do mundo, por amparo para as suas lutas. The German Baptist Missionary Society of Phil, Pa. North America atendeu ao apêlo, enviando o seu evangelista geral, o Pastor H. Schwendener para estudar o campo, suas possibilidades, necessidades e perspectivas. Chegando em 1900, visitou as 3 igrejas, fazendo nelas conferências, confortando e confirmando a fé dos irmãos. Como resultado desta visita, a Junta de Filadélfia resolveu incluir o sul do Brasil nos seus campos missionários e, em 1901, mandou o seu primeiro missionário, o Rev. Carlos Roth. Estêve no Rio de Janeiro, de passagem na ocasião da consagração dos pastores F.F. Soren e Herman Gartner e assistiu àquela solenidade, saudando os irmãos e pedindo as orações dos brasileiros a favor do trabalho no Rio Grande do Sul. Ele deu, por algum tempo, n'o Jornal Batista notícias das suas atividades missionárias. Fixou residência em Porto Alegre, tomando o pastorado da igreja local e cuidando do trabalho geral. Visitava periòdicamente as outras igrejas, fazendo séries de conferências e batizando grande número de pessoas. A Igreja Batista de Nova Württemberg, uma das maisfortes atualmente, (2) foi organizada em 1906. Achavam-se na pequena cidade, desde 1901, alguns crentes vindos de Pôrto Alegre. O missionário Carlos Roth visitou esses irmãos, em 1901, batizando duas pessoas na ocasião. Aumentou o número de crentes e a igreja prosperava desde o princípio. Florescia o trabalho em diversos lugares e o missionário não podia mais satisfazer às necessidades urgentes da seara em todos os lugares. Abriu aulas teológicas em Pôrto Alegre a fim de preparar moços para a pregação do evangelho. Essas aulas funcionavam 6 meses por ano em conexão com a igreja local e isto ocorreu de 1903 a 1908. Estudaram com ele os irmãos João Nettenberg, Ricardo J. Inke, Alexandre Klawin, Frederico e Guilherme Leimann e Pedro Salit, todos de nacionalidade leta, vindos da Igreja Leta de Rio Nôvo, no Estado de Santa Catarina. Paulo Malaquias da Mancha, brasileiro, e Ricardo Pitrowsky, por pouco tempo estudaram também com o Sr. Roth, mas éste trabalho tão frutífero foi interrompido pela retirada definitiva do missionário Roth do Brasil, em 1908. Período de Transição, 1909 a 1915 Diversas causas contribuíram para a retirada do missionário Roth, mas segundo a informação que temos, a principal foi o precário estado de sua saúde. Dos seus alunos, F. Leimann havia assumido a direção da igreja em Linha Formosa. R. J. Inke era pastor ativo e eficiente por 6 anos da Igreja Batista Alemã em Ramirez, na Argentina, e Alexandre Klawin era pastor da igreja Leta em Ijuí. G. Leimann tomou o pastorado da Igreja de Ijuí, em 1908. Não obstante a retirada do seu missionário, a Junta de Filadélfia começou a subvencionar, desde 1909, os dois irmãos Frederico e Guilherme Leimann. Voltou dos Estados Unidos, no mesmo ano, o Rev. Frederico Matschulat como missionário da dita junta. Fixou residência em Pôrto Alegre e assumiu o pastorado da igreja da cidade, a qual pastoreou por muitos anos com animada concorrência. Foi restringido, por alguns anos, na sua atividade, o nôvo missionário, devido à liderança de F. Leimann. O Pastor Leimann efetuou, neste mesmo ano, a organização da Convenção Batista Alemã do Rio Grande do Sul, deixando fora a Igreja de Porto Alegre. Continuou por alguns anos o espírito de rivalidades que certamente não concorreu para o desenvolvimento das igrejas. O Pastor F. Leimann dispensou em pouco tempo o auxílio da Junta, e dominou mais ou menos a Convenção até à sua retirada, em 1914, para pastorear a Igreja de Ramirez, na Argentina. A Junta de Filadélfia deseja transferir o Pastor Guilherme da Igreja Leta de Ijuí para a igreja em Linha Formosa, pedido êste que tanto ele como a sua igreja recusam. A Igreja de Ijuí depois se desliga da Convenção Alemã, e em 1916 manda o seu pastor à Convenção Batista Brasileira, reunida em São Paulo, pedindo admissão à mesma. Nesse período foram organizadas as igrejas de Guaraní, em 1911, e Caporé, em 1913. Período de Coesão e Progresso, 1915 em diante. om a retirada dos dois irmãos Leimann, da Convenção Alemã, ficaram como missionários da Junta de Filadélfia os pastôres Frederico Matschulat e seu cunhado Henrique Landenberger. Este havia sido enviado à Igreja Batista em Ramirez, Argentina, da qual pouco tempo depois se exonerou e veio tomar conta da Igreja em Nova Württenberg, no ano de 1914. Surgiu um jornalzinho, órgão da Convenção, com o nome "Gruess Gott" (Saudação de Deus), que mais tarde tomou o nome de "Missions-bote", (Mensageiro Missionário). Esse jornal contribuiu para a união, harmonia e cooperação entre as igrejas do campo. A Junta de Filadélfia, devido às suas dificuldades financeiras e pouco progresso do trabalho, comunicou aos seus missionários a sua deliberação de abandonar o campo, aconselhando-os a levar avante a obra como melhor pudessem. Isto causou um certo reboliço entre as igrejas, que começaram a pensar mais no cumprimento dos seus deveres e responsabilidades. Convenção organizou, em 1921, um fundo para missões, "Missions-fond", que em 1937 já atingira bom número de milhares de cruzeiros como fundo de empréstimos às igrejas para a construção das suas casas de culto e outros fins da Causa. Este despertamento das igrejas resultou em maior progresso do campo e a Junta de Filadélfia resolveu continuar o auxílio para o campo sem compromisso de mandar mais missionários. As igrejas do campo dirigiram apelos aos batistas da Alemanha, Polônia e Rússia, pedindo que mandassem obreiros para ajudá-las. Vários obreiros ouviram esses apelos e vieram cooperar com os missionários da Junta de Filadélfia. O Pastor Gustavo Henke chegou da Polônia, em 1923, e em 1937 trabalhava com êxito entre as igrejas, exercendo o seu dom especial de evangelista, fazendo séries de conferências que resultaram na conversão de muitas pessoas e no aumento do número de membros de várias igrejas. Outro obreiro, Georg Ziegler, veio da Alemanha e foi consagrado ao ministério, em 1925, para tomar o pastorado da Igreja Batista em Santa Rosa, a maior do campo, onde fez um trabalho magnífico, construindo uma boa casa de culto, que foi inaugurada em 1928. Chegou da Polônia, em 1928, o Pastor Ludovigo Horn para tomar conta da Igreja de Guaraní. Esta igreja tem mais de 250 membros e dos membros desta formaram-se mais três igrejas que fazem parte da Missão Sueca. As igrejas da Convenção Alemã contribuíram, em 1928, com a soma de Cr$ 62.278,00. Todas possuíam a sua própria casa de oração e seis delas incluíam residência para o pastor. Possuíam propriedades no valor de Cr$ 300.000,00. As igrejas alemãs se distinguem pelo zelo no treinamento da mocidade e no ensino da música, tanto coral como instrumental. Já tiveram reuniões gerais da U.M.B. para a instrução e inspiração dos jovens. É rara a igreja que não tenha uma, duas e até três orquestras, além de um bom coro. Sendo os alemães muito conservadores, o trabalho de evangelização, bem como o treinamento das igrejas na mordomia cristã, é difícil. Apesar de todas as dificuldades, a perspectiva das 8 igrejas com 1.028 membros (1928) é melhor do que em qualquer tempo anterior. Fonte: Relato do Pastor Pitrowsky para o livro "História dos Batistas do Brasil até o Ano de 1906", 2ª Edição, páginas 297 - 303. Foto: Igreja Batista da Linha Formosa - RS |
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