por Estevão Júlio, jornalista no Departamento de Comunicação da Convenção Batista Brasileira Não havia data melhor para o lançamento do Hinário para o Culto Cristão, o nosso HCC, do que há 30 anos, mais precisamente entre os dias 25 a 29 de janeiro de 1991. Os Batistas brasileiros estavam reunidos na cidade de Niterói-RJ, na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, para a realização da nossa 72a Assembleia. O tema do encontro anual deixou o ambiente mais “afinado”, no “tom” certo: “Cantemos nossa fé”, com a divisa em Salmos 40.3. “Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao nosso Deus”. Outro fato importante, é que a liderança da Convenção Batista Brasileira (CBB) na época decidiu que 1991 seria o “Ano da música”. Além disso, o nosso Cantor Cristão (CC) completava 100 anos de existência. Sem dúvidas, um contexto totalmente favorável à música.
Após mais de cinco anos de trabalhos, o HCC estava pronto para chegar às Igrejas Batistas da CBB, trazendo em suas canções “tonalidades mais acessíveis ao canto congregacional”, conforme informava o anúncio em O Jornal Batista no lançamento do hinário. Agora, 30 anos depois, para falar sobre o contexto da criação deste hinário e os seus desdobramentos, convidamos a ministra de Música Westh Ney Rodrigues Luz, professora no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB) e no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (STBNB) redatora da revista Louvor e uma das pessoas que trabalhou na construção do HCC, Quando surgiu a ideia de criar o Hinário para o Culto Cristão e qual foi o contexto? Era um sonho de muitos músicos e pastores. O apelo era que tivéssemos música que representasse nossa cultura, com temas pertinentes aos problemas enfrentados pelos brasileiros, como a Responsabilidade social de cada cristão na sociedade. O Cantor Cristão, nosso primeiro hinário necessitava, segundo alguns líderes, de atualização ou acréscimos, inclusive, de hinos sobre as Ordenanças da Igreja (Ceia, Batismo), Senhorio de Cristo, Segunda vinda, Vida futura (morte, céu), Espírito Santo, Bíblia, Trindade, apresentação de bebês etc. Essa foi a tarefa da Subcomissão de bases bíblicas, assuntos e organização (9 índices, sumário, 10 seções com 57 itens, 172 leituras etc). Em 1982, os músicos apresentaram um manifesto à CBB narrando o sonho e em 1984, a AMBB, na Convenção da CBB, pediu um novo hinário. A AMBB formou uma Comissão para elaborar um documento chamado Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil. Essa filosofia musical Batista brasileira, emfoi aprovada e por meio do projeto Em outubro de 1985, a comissão da Filosofia de Música Sacra e a Comissão executiva da AMBB, utilizando alguns resultados das pesquisas oriundas do “Cantem, Batistas Brasileiros”, escolheram alguns hinos do CC e 20 hinos avulsos para um começo de estudo já esperando a liberação da Comissão do Hinário,1991. Em 1987 o assunto foi encaminhado à Junta da JUERP (editora Batista na época) pelo presidente da AMBB. A Junta, em seu relatório à CBB, em 1987, sugeriu a feitura de um novo hinário, que foi decidido pelo plenário da Convenção do mesmo ano. Em setembro (1987), foi formada a Comissão do Novo Hinário com nomes sugeridos pela AMBB. A Comissão, em 1991, foi dividida em seis subcomissões: Triagem, Textos, Música, Documentação e Histórico, Bases bíblicas, leitura e organização e Assessor de provas (Finalização). A coordenadora geral, Joan Sutton, foi convidada pela JUERP para dirigir o trabalho da Comissão. Quanto tempo precisaram para a criação do hinário? Cerca de 5 anos, com cerca de 35 reuniões presenciais (plenárias e parciais) e por telefone. Não existia a internet. Fazíamos tele reuniões com até 8 pessoas pela Embratel. Cerca de 30 cartas para até 40 pessoas, cerca de 10 mil hinos analisados, dois mil hinos recolhidos pelo país, consulta em 200 hinários e compêndios de hinologia, documentação correta etc. Na realidade não era só um volume de canto congregacional. Era uma pentalogia: 1.Hinário congregacional em vozes; 2. Livro com 80 hinos facilitados; 3. Hinário cifrado - linha melódica com 2 cifras para violão; 4. Livro com notas históricas - sobre autores, tradutores, compositores e arranjadores; 5. Letras - sem música, letras em tamanho maior, para facilitar a leitura. Hoje olhamos para trás e vemos o quanto foi importante todos aqueles anos de trabalho, onde todos se debruçavam sobre mesas com pilhas e pilhas de livros, Bíblias, dicionários e hinários. Um tempo de crescimento para nós que ali estávamos sob a liderança de nossa professora, tradutora, hinista, missionária e coordenadora D. Joan Sutton (1930/1986) Qual era o objetivo? Falar ao coração dos Batistas brasileiros com cantos congregacionais importantes historicamente, com uma riqueza hinológica, ensinar dentro da nossa realidade cultural e de forma clara, elegante, com propriedade teológica, encontrando um equilíbrio entre os diversos estilos, usando composições de novos autores de diversos cantos do país. Um dos critérios era também o uso de tonalidades e tessituras mais acessíveis ao nosso povo. Um hinário construído com o conhecimento hinológico de professores e ex-professores dos nossos seminários, além de teólogos com grande conhecimento e vontade de fazer o melhor. Uma família que se doou durante esses anos para trazer cantos de adoração, confissão, perdão, consagração, santificação, responsabilidade social da Igreja, hinos com os temas sobre o mundo, a terra que pisamos e hinos sobre o céu que ansiamos. Os hinos do HCC, como “Canto o novo canto da terra” (549); “Que estou fazendo se sou cristão” (552); “Pai nosso sertanejo” (384); “Perdoa-me, Senhor”, do Hiram Rollo Jr (275); “Salmo 142” (380), os hinos missionários, que falam sobre a nossa pátria, para crianças (com revisão gramatical e atualização do vocabulário) são riquezas inestimáveis para o crescimento do povo Batista, além de muitos ainda desconhecidos. O HCC foi bem aceito pelas Igrejas? Na época foi bem aceito, por Igrejas que tinham líderes de música (ministros, diretores, seminaristas) e que tinham sido alcançados pelos congressos de música, congressos de missionários, pelas conferências nos Seminários teológicos e pelos encontros com pastores, juventude. A nossa comissão, sem citar os funcionários da JUERP e que trabalharam com o HCC, fizeram um trabalho de disseminação do novo hinário. Ainda hoje caminhamos assim e poderemos divulgar mais ainda pelos meios digitais, pela liderança que deseja ver sua Igreja, seu rebanho fortalecido com textos significativos. Quais as principais diferenças entre o Cantor Cristão e o HCC? A busca por um equilíbrio entre os diversos estilos, inclusão de novos compositores. Há, no CC, composições que não são entoadas por casamento ruim entre letra e música, por termos ou temas não tão relevantes, há cacófatos, palavras que pelo dinamismo da língua não devem ser usadas até por sugestão de duplo sentido. O CC foi idolatrado, impresso junto com a Bíblia e por isso não sofreu grandes atualizações. Foi construído para disseminar o evangelho, o crescimento da espiritualidade na vida cristã. Foi construído paulatinamente e com a ajuda inestimável de OJB, onde os missionários, hinistas ou tradutores, lançavam seus hinos nas suas páginas, como Entzminger e Ginsburg (o pai do nosso querido CC), entre outros. 30 anos depois, o HCC ainda precisa ser mais divulgado em nossas Igrejas? Sim. Precisamos usar as plataformas digitais com gravações do HCC para que as pessoas o conheçam. “Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende. Quem nada compreende, nada vale. Mas quem compreende também ama, observa, vê… Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor … Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas” (Paracelso. O HCC precisa ser atualizado? Não sei o que dizer, pois há muitos hinos que nem foram conhecidos e cantados. O hino é o texto. Este está ainda válido e correto. Se houver necessidade podem até fazer como David Hodges, da Subcomissão de música, tem feito: compondo novas melodias para o HCC. Ralph Manuel e Jilton Moraes possuem hinos inéditos sendo divulgados pela Revista Louvor. Precisamos atentar para o texto. Gostaria que todos cantassem tantas poesias lindas e significativas, como a do hino 77, que diz na estrofe 4, o seguinte: 4. Com os enfermos vem estar, os pobres vêm alimentar; aos que no leito sofrem dor, dá teu alívio animador. Deixe uma palavra para as Igrejas e músicos Batistas sobre o uso do HCC. No prefácio do HCC, 1ª edição (1991) professora Jan Sutton escreveu: “O Cântico reflete a fé, as tradições, os valores, as preferências, as doutrinas, os rumos e a espiritualidade de cada um de nós. Nosso cântico reflete quem somos e onde estarmos, na peregrinação cristã. Um hinário é uma coletânea de cânticos que, além de refletir quem somos, indica o estágio em que nos encontramos nessa trajetória cristã. Além disso, prevê quem seremos e medirá, no percurso, nossa estatura espiritual. 0 formato, o estilo e a disposição do conteúdo de um hinário definem os dias e a época de seu uso”. Cabe às lideranças eclesiásticas o repensar honesto sobre que sua igreja está cantando, pois nossa teologia vem também dessa ferramenta (música) ou será que pensamos que só nossos sermões e estudos bíblicos têm formado a nossa identidade batista? Formado ou deformado. Pensemos e estejamos atentos. Ah… estamos só cantando… não é assim que funciona. Texto e música têm um alcance inestimável em nosso cérebro e formação. Que Deus nos abençoe! |
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Outubro 2024
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